Ando pela rua com sapatos largos
Que se afundam nas fendas da calçada.
Fendas que parecem poço de morte
Queda infinita, única e final
Que se repete todos os dias.
Não me falem de religião...
Deus não cobrava o dízimo, pois não?
Dois mil e tal anos já lá vão,
O Deus de hoje
Que vá para o raio que o parta!
Não me falem de inovação...
Os clássicos não desprezavam o belo, pois não?
Por muitos séculos que passem,
A sua obra ficará para sempre,
Os modernistas
Que se lixem!
A história é bela.
A cultura é inegável.
O que somos é incontornável.
Se me querem tirar tudo isso,
Amanhã levo sapatos bem apertados,
E espero que a fenda me envie
Lá bem para baixo,
Longe da voz, da ignorância,
Da estupidez!
A fenda que estava lá ontem,
Espero que esteja lá hoje...
Pelo menos a calçada devia ser como sempre foi.
15 de Outubro de 2008