Caro leitor,
Sinto-me enjaulado na minha própria liberdade. Saio à rua, e encontrando o ar livre à minha volta, o chão empurra-me para cima, a atmosfera para baixo, o mundo empurra-me para dentro de mim, e ocupa-me os lados. Se todos os meus problemas fossem a gravidade!
Não sei o que o mundo esperava de mim. Eu sei o que esperava do mundo mas não me foi providenciado, apesar de prometido. Um sítio onde viver e amar como quero fosse permitido, admirado e exaltado. Paraíso na terra, que na morte só temos cova. Não encontrando nem uma coisa nem outra, tenho os meus versos.
Querem-me proibir de sonhar. Querem-me meter no rebanho de carneiros mortos que andam por andar, a gravidade não lhes pesa e algures lá em cima uns fios os movimentam como marionetas insignificantes.
Chamam-me de ovelha negra. Consideraria mais quem proferiu tais palavras se me chamasse de carneiro negro, pelo menos encaixava mais na carta que agora escrevo.
O mundo está todo errado. Eu e mais uma dúzia de pessoas andamos por aí, certas que estamos certas que os outros estão errados, pensando que estão certos. Somos a luz que ilumina o rebanho morto. Mas de que vale iluminar a morte, como que se de uma glorificação se tratasse? Temos que fazer renascer o rebanho, não iluminá-lo.
Mãos à obra, poetas!