O menino a tocar concertina em jeito de canto ao desafio pela feira trovando mágoas:
A vida já me foi dura
Por essas terras afora,
Por essas terras afora
Há sempre quem me tortura
A romaria vai seguindo, disfarçando peregrinação de santo com festa pagã. Há sempre uns velhos malandros que a troco de uns bagaços desatam a língua ao menino:
Não te queixes óh moço
Há sempre aqui um pêssego
Há sempre aqui um pêssego
Pa chupares até ao caroço
E o menino, rapaz, moço aperta os bofes á concertina procurando em vapores de bagaço resposta a tal desafio:
Muito boa noite senhoras e senhores
Vejo muita falta de caroço
Vejo muita falta de caroço
E também de bons cantadores.
Os velhos empertigados trocam olhares, buscam inspiração no santo da romaria, no passo trôpego do rapaz, e antes que eles buscassem inspiração divina o menino, rapaz, moço atira-lhes:
Não procurem no Gedeão
Não procurem no Santareno
Procurem no nosso governo
A falta de formação
Magalhães chamou ao computador
Fazendo de caixeiro-viajante
Fez figura de triste e pedante
Não tirando ao povo essa dor
Quem muito estica pouco tem
Pouco tem quem assim aldraba
Merecia levar com a albarda
Do povo qu’a ilusão entretém.
Os velhos calaram-se, o miúdo deu o último acorde, o lavrador resmungou com a vaca que não vendeu, o peruano que pulula nas feiras arrumou a quinquilharia da barraca. O cheiro de farturas esfumou-se no ar misturado com outros de bifanas e os modernos “hot-dog”. Amanhã haverá feira noutro local, deste mesmo Minho perdido nas cercanias da realidade, de forma embrutecida que em vapores de romaria vai dizendo que sim, que amanhã será dia de feira…