Flutuam as folhas ao vento
Despindo arvoredos sem passarinhos
Que enchem os céus de movimento
Deixando vazios os seus ninhos.
Miram em terra os vinhais
Onde cantando caminha outro migrante
Colhendo o fruto em quintas dos demais
Espalhando no ar o aroma flagrante.
Oiço a melancólica melodia
Do retornador de invejosos destinos,
Correm os pais para o primeiro dia
Confiando aos mestres os seus meninos
E é nesta cena entristecida
De migração e recomeço
Que renasce um processo
Um novo ciclo de vida.
Animam-se de novo as faculdades
Onde os novos são caloiros
Perdendo direitos e vontades
Entregando aos doutores os seus coiros.
Congestionam-se de novo as cidades
Agasalham-se nas montras os manequins
Transbordam em tablóides falsas verdades
Perdem os autocarros as querubins
Começa de novo a monotonia
Das gentes em stress e correria
Vao e vêm como obreiras
Garantindo o "mel nas algibeiras"
HERNÂNI GIL