Poemas -> Amor : 

Borboletas escarlates

 
São sois tranquilos os olhos dos frágeis rouxinóis
na noite desamparada dos caminhos de esquilos.
Naquela floresta enfeitiçada de buxos, arbustos raros
em que os teus lábios sinuosos
me buscam, ninfa ou fada, longínquos e distantes.

Antevejo-te então nas meninas dos meus olhos claros …
quando, os teus olhos me delineiam, equidistantes,
nas pegadas jubilosas dos sonhos paladinos
e me conferem lugar cimeiro no palanquim sagrado
dos divinos amantes.

São sois serenos os olhos evidentes dos rouxinóis
donde se elevam triunfantes, trauteios moços de emoções.
Numa serôdia Primavera, outrora hereges sopranos,
floreiam-se em mil chilreios, na suavidade aberta das nossas
próprias canções.

São momentos silenciados, sagrados, de ternuras e mimos,
exaltados de milenares afectos. Instantes perdurados ao infinito.
Em que, por nós, se calam de zoar até estridentes insectos.

Momentos sublimados de prazer, em que não se ouvem sequer
a gargarejar as fontes na laje de pedras.
Nem sequer a ventania oriunda lá das infinitas serras …

Instantes em que das folhagens se elevam Borboletas escarlates.
Vão poisar nas rubras rosas aureoladas no relento da manhã,
na busca acalmada d’alimento. São belíssimas mariposas animadas
na carne mágico-sacra da flor teu beijo. A navegar ao sabor
de duas bocas e um desejo … Um só momento.

Voam agora as Borboletas, no arrojo triunfal d'acasalamento.
Voam-se livres, livres, ao vento …


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Autor
Mel de Carvalho
 
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