Abro a porta e fecho os olhos
Ao que se passa ao meu lado...
À minha esquerda, a prostituta
Meio morta, meio falecida,
Vende-se aos que à minha direita
Se apresentam aperaltados.
Dois passos mais à frente,
O moribundo pede-me comida
E eu recuso. Este mundo não o merece.
Passo a estrada onde ainda ontem
A velha levou com um carro na cara.
Piso o sangue seco e sigo viagem.
Chego ao destino e não sei quem sou.
Só sei que não estás lá
E tenho sangue nos sapatos,
E dinheiro a mais no bolso,
E uma prostituta à porta de casa.
Tenho de voltar para trás.
A estrada tinha sangue fresco.
Um jovem seguiu o exemplo da velha
Mas tinha sangue mais quente e vivo.
Paro em frente à poça... e respiro.
O moribundo recebeu uns tostões
Mesmo antes de beber o sangue no chão.
Cheguei à porta de casa...
A prostituta ainda lá estava.
Não censuro quem ama a profissão,
Mas se não é esse o caso,
A minha porta está aberta.
Amar o mundo é amar-te.
12 de Outubro de 2008