Antigamente podia-se ouvir de uma criança a seguinte oração:
“Papai do céu, eu agradeço ao Senhor por mais um dia maravilhoso. Hoje eu me diverti muito com os meus amiguinhos: pulamos corda, brincamos na rua de amarelinha, boca de forno, cai no poço e de um montão de coisas. Obrigado pela família que o Senhor me deu. Quero agradecer por permitir que o meu pai fosse promovido em seu emprego. Agradecer pelo alimento que não falta em nossa mesa e também por nossa saúde. Ah, agradeço também pelas boas notas na escola e pela bicicleta que eu ganhei. Era o meu sonho! Eu te peço Senhor, uma boa noite para todas as pessoas do planeta. E que amanhã eu acorde com mais energia pra correr bastante e ganhar na brincadeira de esconde-esconde! Amém!”
Estas são as palavras de um infante em uma oração na atualidade:
“Deus, obrigado por permitir que eu voltasse pra casa vivo. Hoje o dia não foi fácil. Teve um tiroteio no meu bairro e o meu colega foi morto. Ajude que minha mãe consiga um emprego pra comprar comida. Não agüento mais dormir com fome ou ir visitar o vizinho somente na hora das refeições. Ainda bem que amanheceu chovendo e eu não fui à escola. Só lamento por perder a merenda. Eu te imploro Deus, para que me livre das balas perdidas, me ajude a ganhar uns trocados nos faróis pra que eu possa auxiliar minha mãe com as despesas. Mas eu te peço também, que não me deixe seguir os passos dos meus irmãos que se envolveram com as drogas... Deus, eu te peço que eu cresça logo e realize o sonho de ser um jogador de futebol ou artista de televisão, para dar à minha família tudo o que falta agora. Amém!”
Eu fico aqui me perguntando: o que aconteceu com o mundo? Qual será o futuro da nossa infância? E por mais que eu pense, não consigo resposta alguma...
Maria Liberdade
Texto selecionado no I Prêmio Garibaldi Brasil de Literatura Acreana
e publicado no livro “Nova Literatura Acreana”