Amigos e amigas leitores! Eu gostaria de abordar, de forma sucinta, sobre um tema, muito em voga nos tempos de hoje, relacionado à construção de poemas: A LICENÇA POÉTICA. (Estou pensando aqui no poeta profissional)
Acredito que a licença poética será sempre válida, porém, o escritor e poeta Profissional, primeiramente deve conhecer e praticar o que são as possibilidades clássicas de escrita poética para então, numa ruptura consciente, se fazer valer da licença poética.
Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Raul Bopp e outros poetas modernos tinham noção completa da criação poética clássica, todavia, o tempo em que viveram era de ampliação do campo poético na tradição clássica: métrica, rima, ritmo e suas formas fixas de gêneros épicos e líricos. Eles estão inseridos no Modernismo, que tem um olhar diferenciado (olhar de participante) para a nova realidade social em construção no início do Século XX e buscaram formas de como representá-la com maior verossimilhança através da Literatura. Nesta escola literária a temática social passa para primeiro plano em detrimento da temática amorosa que foi a temática principal da Poesia Clássica.
A necessidade de representar poeticamente temas como: a crescente urbanização, o automóvel, a velocidade, a poluição, a energia elétrica, o rádio, o cinema, as greves operárias, o carnaval, o petróleo, a Psicanálise, o homem perdido na multidão, etc. faz com que o poeta engajado no movimento modernista utilize o verso livre, o verso branco, figuras de linguagem como a onomatopéia, sinais de pontuação em quantidade, deixe espaços da folha em branco, etc. como instrumental necessário para possibilitar a construção de seus poemas, intitulados de modernos.
Creram os modernistas que os gêneros líricos tradicionais, como o soneto, e suas formas fixas de Poesia não eram adequados para representar com fidelidade os novos temas por eles abordados. Não creram, que as formas tradicionais de construção poética eram ultrapassadas, apenas inapropriadas à temática modernista.
Hoje em dia, existe muita literatura sem qualidade (fizeram uma leitura errônea dos modernistas). Poetas (que se classificam como profissionais) que crêem não ser necessário conhecer métrica, ritmo, rima, versos alexandrinos, heróicos, figuras de linguagem, etc. porque consideram ultrapassados elementos do poema. Dizendo ainda serem, estes elementos, camisa de força e o impossibilitar do fluir completo das emoções do poeta! Um erro! Para cada tema proposto seja épico, lírico ou tema social melhor se adapta um tipo de verso, uma escolha vocabular, determinadas figuras de linguagem, etc., esta é a verdade que acredito!
Jamais se esqueçam que os mestres do modernismo português e brasileiro: Fernando Pessoa, Mário de Sá carneiro, Manuel Bandeira, Mario de Andrade, Raul Bopp, Jorge de Lima, etc. fizeram sonetos à moda clássica também. João Cabral de Melo Neto cansou de utilizar a Redondilha maior, no seu Poema mais conhecido: "Morte e Vida Severina" lá ela aparece inúmeras vezes, entremeada por alguns decassílabos e outros metros. Fernando Pessoa, com seu heterônimo: Ricardo Reis usou e abusou da métrica: Versos de 4, 6, 10 sílabas poéticas (aqui com versos heróicos e sáficos).
Para a licença poética ser consciente tornam-se necessários conhecimentos profundos de Literatura, leitura dos grandes poetas universais, exercícios práticos de poemas, na sua forma clássica e moderna e da Língua Portuguesa na variante Culta.
Enfim, penso eu, o bom poeta profissional é aquele que sabe caminhar tranqüilamente entre a tradição e a licença poética utilizando a forma mais adequada, claro que pode existir mais de uma, para representar poeticamente o tema por ele proposto. Se assim não for estamos, certamente, a um passo do pouco valor de nossa poética.
Todo poeta de talento e verdadeiramente profissional conhece os macetes da escrita poética clássica e moderna.
Licença poética é ruptura consciente, jamais esqueçamos disto.
Fiquemos todos com Deus, amigos e amigas, abraços, ótima semana, Alexandre