Estive pensando em outra lista (antes criei a lista dos 10 poetas da Língua Portuguesa que mais gosto em ordem cronológica) composta pelos 20 (vinte) POETAS CLÁSSICOS BRASILEIROS que mais gostei, dos que tive o prazer de ler, e gostaria de dividi-la com vocês, amigos e amigas leitores. Não coloquei, desta vez, em ordem de preferência.
Este é apenas um exercício de seleção pessoal e não tenho outra intenção senão a de abrir caminhos, aos recantistas, para descobrimento de grandes poetas brasileiros por quem gosta de Poesia e não conhece a poética deles (tenho a clareza que alguns poetas da lista são bastante conhecidos de todos).
Numa explicação de maneira bem simplificada e didática, podemos dizer que os poetas clássicos trabalham com estes 3 (três) elementos básicos nos versos que produzem: Métrica, Ritmo e Rima. Além disto seus poemas, geralmente, seguem determinados gêneros poéticos de forma fixa, como por exemplo: o Soneto, a Ode, o Madrigal, o Vilancete, o Rondó, a Nênia, etc. Métrica, ritmo, rima, poema de forma fixa são elementos básicos da Poesia Clássica.
Tenho a lucidez de afirmar que uma lista é sempre subjetiva e que os seus parâmetros de escolha, estão diretamente ligados ao conhecimento da Poesia do escritor elencado, das leituras feitas por ele até a elaboração de sua lista e do seu entendimento do que seja uma literatura de maior valor.
Coloquei após a lista dos poetas, algumas informações relevantes sobre a poesia de parte destes autores, no tocante a possibilidade de uma ruptura ou não com os elementos básicos da Poesia Clássica. Alguns destes autores escreveram em uma fase pré-moderna, outros continuaram a escrever, já conhecedores da Poesia Moderna que, no Brasil, tem como marco fundamental a Semana de Arte Moderna de 1922, porém, somente Gilka Machado experimentou em quantidade poemas com os elementos incorporados pela Poesia Moderna.
Atentem no final (uma ajuda para os amigos e amigas leitores que não saibam) para a diferenciação entre poema com verso polimétrico, verso livre e verso branco. Esta é uma importante diferenciação a ser feita para o entendimento da Poesia Clássica e da Poesia Moderna.
Eis a minha lista dos 20 poetas brasileiros clássicos que mais apreço tenho:* ** ***
1 - Gonçalves Dias
2 - Álvares de Azevedo
3 - Maciel Monteiro
4 - Augusto dos Anjos
5 - Raul de Leoni
6 - Moacir de Almeida
7 - José Albano
8 - Francisca Júlia
9 - Gilka Machado
10 - Mário Pederneiras
11 - Pedro Kilkerry
12 - B. Lopes
13 - Da Costa e Silva
14 - Onestaldo de Pennafort
15 - Olavo Bilac
16 - Raimundo Corrêa
17 - Alberto de Oliveira
18 - Gonçalves Crespo
19 - Vicente de Carvalho
20 - Emílio de Menezes
* Não coloquei Castro Alves nesta lista por opção minha, não me agrada por completo a sua poesia. Levei meses e meses para terminar a leitura de Espumas Flutuantes.
** Gonçalves Crespo nasceu no Brasil, apesar de sua vida poética e poesia estarem ligadas a Portugal. Por apreço inestimável ao poeta coloquei-o na lista.
*** Gregório de Mattos Guerra, Tomás António Gonzaga, Bernardo Guimarães, Sousândrade, Cruz e Souza, Alphonsus de Guimaraens, dentre outros, não estão na lista por ter ainda pouco contato com suas obras, talvez, se os tivesse lido substituiriam algum poeta desta lista. Apenas Cruz e Souza eu tenho as Obras Completas e estão esperando a minha leitura atenta aos seus poemas.
Informações interessantes sobre a construção poética de parte destes autores:
1) Pedro kilkerry, poeta simbolista, estava ensaiando o verso livre e veio a falecer antes da libertação à métrica;
2) Mário Pederneiras foi poeta que trabalhou na forma clássica do soneto e incorporou ritmo próprio em outros poemas que compôs, valendo-se da Polimetria: metros diferentes no mesmo poema; o que confundiu alguns críticos literários, considerando-o o introdutor do verso livre no Brasil.****
3) Gilka Machado trabalhou nas duas frentes: Poesia Clássica e Poesia Moderna. Muitos dos seus poemas são caracterizados pela Polimetria; o verso livre e o verso branco também estão presentes em sua poesia. Nasceu sua poesia antes da Semana de Arte Moderna de 1922 dentro da Escola Simbolista.
4) Onestaldo de Pennafort timidamente incorporou o verso livre e algumas vezes se valeu da Polimetria.
5) Raul de Leoni, Da Costa e Silva, B. Lopes aceitaram também versos polimétricos em alguns de seus poemas.
6) Da Costa e Silva fez algumas experimentações poéticas, como um poema formando um losango, quase uma antecipação dos poetas concretos, e alguns poucos poemas polimétricos, porém, sem abandonar a rima e sem a intenção de incorporar o verso livre ou branco.
7) Alberto de Oliveira, Vicente de Carvalho, dentre outros parnasianos, trabalharam também, em alguns poemas, com tímida Polimetria; todavia, jamais abandonaram a métrica, o ritmo e a rima. Apesar de parnasianos o ritmo, nas redondilhas destes poetas, aparece mais flexível, a tônica não está sempre marcada na 3ª ou 4ª e 7ª sílaba poética. Os versos, em cada estrofe, podem ser polimétricos porém, a preocupação com a simetria das estrofes é mantida quase que por completa.
**** Tenhamos cuidado para não confundir: 1) Poema com Verso Polimétrico; 2) Poema com Verso Livre e 3) Poema com Verso Branco.
1) POEMA COM VERSO POLIMÉTRICO apresenta mistura de metros e seus ritmos pertencentes à Poesia Clássica no mesmo poema: verso em redondilha maior (sete sílabas poéticas), seguido de verso decassílabo heróico (dez sílabas poéticas e ritmo marcado na 6ª e 10ª sílaba poética), depois um verso de oito sílabas poéticas (sáfico quebrado apresentando a tônica na 4ª e 8ª sílaba poética), etc.; temos então: metros diferentes, ritmo mantido: pela presença das tônicas no lugar exato onde estariam se fosse um poema de único metro clássico. Na Poesia Clássica a rima consoante (pecado/ amado/ lado/ ensolarado) mantêm-se em poemas polimétricos, na Poesia Moderna nem sempre. (PRESENTE NA POESIA CLÁSSICA E MODERNA)
Exemplo de poema com versos polimétricos:
1. “As Árvores da Rua (verso heróico quebrado)
Têm
Uma estranha feição especial... (verso jâmbico)
Como que de outro modo, (verso heróico quebrado)
5. Com menos seiva, com menor denodo, (verso decassílabo sáfico)
O Sol Nelas Atua. (verso heróico quebrado)
E Não nos dão também, (verso heróico quebrado)
A fecunda impressão da força vegetal.” (verso alexandrino)
(Estrofe de Árvores da Rua - Mário Pederneiras - Antologia Poética - Livraria Agir Editora - Rio de Janeiro - 1958. - pág. 60)
Temos nesta estrofe diversos tipos de verso: Heróico quebrado (verso com seis sílabas poéticas), Jâmbico (verso com nove sílabas poéticas e com a tônica marcada na 3ª/6ª e 9ª sílaba poética) , Decassílabo Sáfico (com dez sílabas poéticas e com a tônica marcada na 4ª, 8ª e 10ª sílaba poética) e Alexandrino (verso com doze sílabas poéticas e com a tônica marcada na 6ª e 12ª sílaba poética).
2) POEMA COM VERSO LIVRE não segue o metro clássico, o ritmo não é demarcado, necessariamente, pela tônica em determinadas sílabas poéticas do verso e algum(ns) verso(s) pode(m) não encontrar o seu par de rimas. (PRESENTE NA POESIA MODERNA)
Exemplo de poema com versos livres:
1. “Sinto às vezes,
por encanto,
minha alma aos teus lábios presa,
misturada com a tristeza
5. de teu canto.”
(Estrofe do poema: Encantamento - Gilka Machado - Poesias Completas - Editora Cátedra/MEC - Rio de Janeiro - 1978 - pág. 204)
3) POEMA COM VERSO BRANCO é o poema desprovido de rimas, podendo ou não ter métrica e ritmo clássicos. (PRESENTE NA POESIA MODERNA E RARAS VEZES NA POESIA CLÁSSICA OBEDECENDO MÉTRICA E RITMO)
Exemplo de poema com versos brancos
1. “Em vossos pés heróicos
depõe um beijo
a alma do Brasil.”
(Última estrofe do poema: Aos Heróis do Futebol Brasileiro - Gilka Machado - Poesias Completas - Editora Cátedra/MEC - Rio de Janeiro - 1978 - pág. 202)
Fiquemos com Deus, amigos e amigas leitores, abraços e beijos, Alexandre.