Quando a luz que me acendeu,
Se apagar.
Que tenha meu
Deixado ficar:
- Uma mensagem decifrada
Doce. Amarga. Insossa. Salgada.
Como os sentimentos
E pensamentos
De um ser.
Conforme os momentos
Ter ou não ter :
- Tudo, muito, pouco ou nada !
Doce. Amarga. Insossa. Salgada
Picante mensagem
Neste tempo temperada.
Que tenha deixado ficar
- Um pouco que seja –
Daquilo que pode aleijar
Um homem que se aleija,
P’los olhos a dentro
De olhar p’ró mundo,
Das varandas do ocidente,
E noutro mundo,
Cada vez mais, imundo,
Ver cada vez mais gente.
Ver a humanidade a condenar
Á miséria. Á fome. Regiões.
Ditaduras sem nome, a prosperar
- Ai os direitos humanos... dados aos leões !
Quando o mundo a vela me apagar,
Que tenha sabido deixar,
Meio contada, meio mentida
Meio falida, meio inspirada
Meio entornada, meio parida
Essa obra sofrida.
Só assim então,
A vida não terá sido
Toda em vão.
Como pão,
Não comido.
Como leite, como vinho
Não bebido e azedado.
Como o sangue derramado
Dum amigo, soldado
Morto em missão
De paz,
Numa guerra em vão!
(- Como todas as guerras são
menos p’ra quem as faz !)
E enfim, despido de mim,
Comigo vá.
Lá onde anseio – ás vezes já –
Só p’ra não ter de esperar mais
O resto dos meus sois
Postos. Iguais.
- Oh, anseio demais!
Urbano da Vila /86 /95.