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“ Lar doce lar ”

 
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... E minha mulher não pára
De me chamar à razão :

- Vai trabalhar ó calão !
A família, de sustentar
Tens a obrigação.
E com teus gatafunhos não ganhas cifrão.

- Os tempos mudaram
Já a mulher ralha !...
Mas a gente pianinho diz : - Não, não.
- Vais ver alguma coisa vai mudar,
Eu sinto no ar !...

- O que eu sinto no ar ?
É o jantar a esturricar.
Nem do comer te sabes ocupar !

... Eu arrumo a casa , trato dos filhos ,
Lavo a loiça , limpo os vidros,
Sacudo os tapetes , passo o aspirador...
Vai ao menos pôr
A roupa a lavar.

- Ai saudades de ser vendedor –

- Está bem, tens razão,...
Meu amor.
Tenho a obrigação,
De te ajudar.
Vou pôr,
A máquina a trabalhar.

E não me chateies mais depois !

Qu’eu tenho trinta canções, por “sempôr”
- Uma por cada ano d’herdade -
Trinta carros á frente dos bois
Onde passeio a minha ansiedade .

Trinta refrões por inventar
Como inventar
As vozes que os queiram cantar.

- Deixa lá de delirar
E vai mas é trabalho procurar
Que a vender canções como esta
O melhor é dedicares-te á pesca !

- Tens razão minha querida,
O melhor, é fazer-me à vida
Que a vender, destas canções
Já não nos chegam... os botões!

- Deixa lá de delirar
E vai mas é trabalhar
Que a venderes canções como esta
O melhor é dedicares-te á pesca .

Urbano da Vila / 94 .

 
Autor
Urbano-da-Vila
 
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