(I)
Via-me bem numa futura geração
A do basta juntar água e mexer.
Via-me bem a só esticar a mão,
E ter tudo sem nada ter de fazer.
Haver o mundo inteiro numa televisão,
Um menu e muitos botões para escolher
E um “robot” para tudo me trazer ! ...
- Vai mas é trabalhar, ó calão !
Pois ainda estamos na geração
Do toca a “arranhar” se queres “roer”.
(II)
Se cem anos depois, nasceria rico
Porque me nasceram um século atrasado ?
Agora metam-me num “arco frigorifico”
Até ficar duro. Imaginem-me um gelado.
Confiem-me a um génio ciêntifico,
Expecialista do ainda não inventado :
Transporte ao futuro – via congelado !
E eu todo em arco metido cem anos fico
Como um espermatezoide em azoto liquido
“Cool” em “stand by” bem conservado.
(III)
E num foguete passaram-se cem anos
E há dias um actual expoente da ciência,
Sem cometer enganos, nem em mim danos
Consolidou a “espectapolar” experiência.
Eu o primeiro dos bravos lusitanos
Com cem anos de absoluta inexistência.
Cem anos de atraso de inteligência !
Os nossos ulteriores são uns bacanos
E a grande moda é serem marcianos
Moram na lua . A terra foi á falência !
(IV)
Faço hoje cem dias de futuro.
–Tirem-me daqui não sei andar nisto !
Eu pensava que o meu tempo era duro
Mas o futuro ficou depressa, mal visto.
(Aprendi que a terra teve um furo,
E o homem um estrondoso despiste.
O mundo como era, há muito não existe.
Dizem que de repente o tempo veio escuro
Ouviu-se um estoiro . Vieram as nuvens d’esturro
E o sol foi-se embora furioso e triste .)
(V)
E então ó netinhos, não havera maneira
De me mandar aos “charrinhos”, do passado ?
É que por mais que eu tente e queira
Aprender a ser um gajo todo sofisticado,
Não faço sequer a minima ideia
De como amestrar este imenso teclado.
- Acerto sempre no botão errado !
Aos passados do meu tempo, desculpem a caganeira
É qu’eu carreguei sem querer na diarreia
A prisão de ventre, era o botão do lado !
Urbano da Vila / 87 / 93