às vezes passas por mim com o passo acelerado como se tivesses perdido alguma coisa e agora te restasse a pressa de a encontrar, perdeste o amor, há muito tempo já, quando os rios ainda eram preenchidos por água transparente, quando pedir desculpa não custava tanto. e passas com o saco na mão pequena, seguro pelos dedos que já conheceram a dor da minha cara, eu sorrio, sempre, mas tu não vês, vais preocupada com o que perdeste, tão rápido que nem reparas que o amor está ali ao lado, sentado na esquina da rua como de costume à espera, de fato castanho vestido com o chapéu que lhe ofereceste pelo dia de são valentim há uma dúzia de anos atrás, a acenar algumas recordações que ainda vivem. tu não vês, não vês e choras com os olhos postos ao fundo, onde a rua acaba como se o amor ali também tivesse acabado, tivesse por ventura embarcado num navio e seguido mar abaixo, mas não, não julgues que se afogou em mar alto que é a terra que o conhece ainda, que lhe sabe ouvir os passos ocos na calçada, sem ti.eu fico sempre à espera na esquina da rua, a ver o teu corpo lançar-se rua abaixo num tom apressado, tão rápido que os teus pés parecem não tocar o caminho e voas, parece que voas como se as gaivotas te levassem e é tudo o que me resta agora, depois de morto, ver-te passar sem te encontrar as mãos, no toque, o beijo, sem saber porque te bate ainda o coração dentro do peito se o amor se perdeu, se o amor já partiu e o tempo é agora corridio. a que te sabe ainda a vida?
. façam de conta que eu não estive cá .