Na minha solene loucura, rasgo folhas,
de encontro ao peito, reinvento-me a
toda a hora, e, de novo, pé na estrada,
componho o irreversível, à luz da vela.
Prisioneiro de mim mesmo, de mi arte,
sou um poço de febre, que me trucida,
corpo e alma, jamais e nunca satisfeito,
com o que produzo, em toda a entrega.
Sei-o bem que falta sempre o que dizer,
em tudo que faça ou intente concretizar,
como se ficasse algures no meio do nada,
na inquietude alucinante, de meu quarto.
Num assomo de infertilidade e inspiração,
esmurro o cinzeiro vazio, e, eis, deambulo
feito sonâmbulo, quarto adentro, cerrada
a mão, com que enceno, a própria morte.
Porém, a momentos, aceno-me ao longe,
como que para te cumprimentar e trazer,
para junto de mim, banhando meu corpo
nu, em águas, cobertas, de rosas brancas.
Jorge Humberto
06/10/08