Estás velho rapaz
Irremediavelmente velho
Velho gasto e acabado
Acabado de morto
Morto de morte comprovadamente matada
E na tua ufana vaidade
Nem dás conta da tua morte
Nem sentes o teu falso respirar
Agora mais não és que cancro e bosta
Fedes como cadáver retardado
Esquecido numa qualquer valeta
Abandonado de cabeça trucidada
Deixado na fossa do vómito maior
És metástase da tua própria metástase
Loucura celular
Náusea quimio-terápica no corpo em vómito
Abjecção exímia da existência ridícula
Justo final de quem nunca existiu
Absurdo nado-morto repugnante
Escarro humano
Asco supremo
Aberração monstruosa
Cadáver do cadáver adiado
Como te compreendo rapaz
Como me sinto pleno e teu igual
Em noites e dias tenebrosos
Em todo o breu da verdade de mim
Em meus efémeros e derradeiros instantes
Sou mais igual que teu igual
Sou a fossa profunda da abjecção
Dionísio Dinis