Existem dias em que nos sentimos a última das pessoas neste mundo. Parece que somos a trave no olho alheio, a pedra no caminho, a ponte quebrada sobre um rio revolto, o barranco despencado pela enxurrada, a árvore derrubada pelo tufão, ou então apenas um espectro, fantasma invisível na multidão. Tudo o que queríamos é que nosso corpo se evaporasse, que o sumiço completo fosse nosso grande aliado para sobrevoarmos, como ar apenas e assim poder observar nosso espaço e compreender, quem sabe, os acontecimentos que nos envolvem tão completamente, nos distanciando de nossos desejos, quebrando nossos sonhos e nos fazendo viver uma realidade diferente da que planejamos. Mas não é assim que acontece. Somos providos de alma, de pensamento, de sentimentos que nos confundem, somos providos de um físico que nos limita, enquanto não o conhecemos completamente. Sofremos com os contrastes que perambulam em nosso cotidiano, com o que parece ser e o que realmente é. Com o que premeditamos, mas não conseguimos efetivar. Estamos em uma armadilha fabricada por nós mesmos, num labirinto que nos obriga a andar, andar, infinitamente andar, enquanto providos de fôlego, até que consigamos descobrir a saída ou nos entregar completamente a essa rotina de sempre recomeçar em uma nova porta de entrada, de outro e mais outro labirinto, até que aprendamos a desvendar seus mistérios, com ajuda do fio de Ariadne, que seja, mas aceitando, enfim, a ajuda providencial.
Nesses dias me pergunto insistentemente, “por que existe uma teimosia, que parece inata em mim, em trilhar labirintos desconhecidos? Em criar armadilhas para me enredar, sem a possibilidade de defesa?”. Afinal, tudo me diz que sou eu a única responsável por mim. Eu faço e refaço meu destino, sou portadora da chave dos enigmas, da força do Cósmico, conhecedora dos segredos da vida e capaz de criar futuros. Então, por quê? Por que me debruço aos pés de Ares, inimigo da serena luz solar e da calmaria?
Lucy