Aos catorze anos, ele deixou de frequentar a escola, porque foi excluído por faltas. Estudar é um verbo que ele nunca conjugou na primeira pessoa, aliás, um verbo que nunca conjugou com ele. Sabendo que ele não gostava de livros, ela ofereceu-lhe um livrinho, adequado na dimensão e no conteúdo. Ainda hoje o livro permanece mudo na estante. Ele prefere ser personagem dos seus próprios enredos. Quem não gosta de ler, lê figura. Ela não se rendeu e ofereceu-lhe outro, de banda desenhada, compatível com o modelo de leitor tão exigente quanto ele.
- É divertido! Já li umas páginas. - disse ele.
Ainda hoje o livro permanece na estante. Não ficou mudo, porque balbuciou algumas palavras, mas não as suficientes para fazer dele um leitor. As únicas palavras que ele tem lido têm sido as mensagens no telemóvel. Essas não são arte nem imitam a vida, porém reunidas dariam um livro de um género por decifrar.
(Texto inédito e propriedade intelectual de TeresaMarques)