És rainha de um reino perdido nos tempos, lugar de deuses e magia. Eu, mero súbdito, construo palácios na ponta do carvão, sonhos encantados por ti outrora sonhados. Teu olhar superior é um raio que meu olhar ofusca, minha alma perturba. Teu corpo, hidromel, luxúria perfeita, que minha líbido transtorna. Tua voz, timbre adocicado que em minha mente ecoa como cântico suave de sereia.
Invades meu quarto, numa noite quente de verão, ofereces-me o corpo e eu peço-te com ele a alma. Amas-me na penumbra desta noite, e deixas-me ficar com o sabor da tua pele na minha boca, com o perfume de teus cabelos na minha mente, com a essência da tua alma em meu peito. Regressas à opulência do teu viver, vazia, um corpo oco que agora se entrega nas mãos de outro homem, um corpo frio que o prazer abandonou.
Em mim ficamos os dois, em nós reside um corpo só, no vazio imenso de um mundo antigo, empoeirado e triste. O peito rebenta de prazer, e as essências espalham-se por todo o meu ser. Em mim habitas, numa eternidade sem tempo, num lugar escondido, dentro da minha alma.
Perdem-se os corpos, enfaixados, mumificados, escondem-se sarcófagos nas areias mais profundas dos desertos, mas a alma sobrevive aos tempos, viajando de corpo em corpo até este momento.
Serás eternamente a rainha do Sol, e eu a sombra da Lua que te persegue.