POEMA DO DEPOIS
E depois...
depois dos abadás?
E depois...
depois das plumas e paetês?
E depois...
depois das bocetas degustadas?
E depois...
depois das bananas chupadas?
E depois...
depois da euforia passada?
E depois...
depois do vermelho despontando no frontal horizonte?
Do vermelho dos juros do Banco...
Do vermelho que canta a trova do despejo que se aproxima...
Do vermelho que toca a dramática balada do avolumar duma
Jovem
Barriga...
Do vermelho no estouro do limite do dinheiro de plástico...
Do vermelho que irrompe a periferia, levando consigo o amargo:
O amargo sabor do
Ocaso...
Do vermelho da responsabilidade que se materializa num cordão
Umbilical
Cortado...
Do parasita vermelho do HIV continuamente a devorá-lo...
E depois...
depois do vermelho da vida que escapa? Escapa ao deixar o
corpo para inundar o chão de plasma...
E depois...
depois do servo Irãnio?
E depois...
depois da conquista do Negro Ouro em solo maometano?
E depois...
depois de mostrar aos mandarins quem é que manda?
E depois do presente?
E depois do efetivo de ferramentas assassinas...
Dos soldados do rentável sistema de baixo?
E depois das carícias...da decepção...das certezas...do amor.
Das promessas?
E depois do passado?
E depois do futuro: o que haverá de nós sobrado?
E depois do nada ecoado?
E depois das cinzas da fogueira?
E depois de tudo apagado?
E depois do mar de silêncio?
E depois da supernova?
E depois do enterro?
E depois do pairar do crepúsculo?
E depois do teatro dos vampiros?
E depois do olhar do mendigo?
E depois da aurora?
E depois, como continuar a seguir o caminho?
E depois, como se achar em um mundo perdido?
E depois do agora?
E depois do depois do agora?
E depois do depois do amanhã?
E depois do depois do depois?
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA