Foi preciso espreitar a janela
E descobrir que tinhas asas
Que eras cidade de castelos e ameias
Que eras morada da minha cela
E que dentro do teu lago germinavam peixes
E nadavam plantas
E acalmava o teu silêncio
E estremeciam as folhas do meu poema
Escritas a medo em papel corredio
Descobri que tinhas sombras nos olhos
Um olhar fugidio
Uma saia de folhos
Mas um corpo baldio
Descobri que eram verdes os teus cabelos
Ou seria ilusão dos meus
De tanto tempo sem vê-los?
Descobri que eram macias as tuas colinas
Quieto o teu rio
Margens estreitas
Leito selvagem de lágrimas salinas
Descobri que o meu mapa era velho
Estava ao contrário, do avesso
De pernas para o ar
Gasto de tanto sangue vermelho
De virar e virar
De tanta lábia e conversa
Descobri que afinal eras um peixe verde
Deitado num tapete persa
Descobri que podes gostar de ti como eu
E vice-versa