a vida não faz sentido, penso enquanto olho a pedra onde termina o rio ou a visão que dele tenho daqui, que continua sei-o porque já tive oportunidade de o ver chegar ao mar mas visto daqui acaba ali, onde o pescador ajeita o anzol. hoje não me vou lamentar, digo em voz alta, falo tantas vezes só que me invento em corpos fora de mim e me habito e me converso como se fosse uma multidão. a multidão que me envolve não está em festa, pelo contrário, os corpos encostados uns aos outros descansam a paz dos justos sentados encosta abaixo, julgo, eu não me encosto nem me sento porque hoje sei o rio a acabar numa pedra e não estou bem. o pescador senta-se e espera que o peixe pegue. sou conhecida por ser calada mas sendo calada quero apenas passar despercebida. talvez não haja uma forma de viver, talvez não seja um jeito que se lhe dá, talvez o que a vida precise seja este não fazer sentido nenhum. a minha vida não faz sentido. sento-me, não vá dar nas vistas por estar de pé no meio de uma multidão sentada. o pescador morreu onde o rio acaba, choro.
. façam de conta que eu não estive cá .