Todas as noites, num derivado sucedâneo
a que o tempo cronológico não é alheio
venho à boca do fim do dia desabitado,
para além da tarde
que tarda em me tragar,
entregar a minha alma numa salva de prata.
Entrego-me, semi-deusa, ninfa ou fada,
silenciada à fonte lusco-fusca da alba aurora
em folhas desfolhadas de um pretérita rosa,
numa melopeia d'ensandecidos alfabetos.
Entre os braços abertos dos raios de luar meninos
solto os cabelos em desalinhos circunflexos.
Aguardo a tua chegada, sentada num baloiço feito de nada.
Aguardo que me profanes a pele dorida,
que me penetres a iluminura provinda do meu olhar,
vagas verdes de um mar. O teu mar!
Aguardo ver-te caravela
a navegar o pranto incandescente. Torrentes de alto-mar,
ser-te porto, cais de amar.
Todas as noites, o meu corpo é proscénio de um drama
ou de uma comédia prosaica.
De uma peça em que o pano não sobe, uma máquina milenar
em que o filme encrava e não corre …
(a alma morre)
Todas as noites, não mais que areia
varrida por ciclones eriçados de uma salgada canção,
cantarolada em versos de um idioma desconhecido,
os sentidos escorregam nos limos reluzidos p’la ogiva da Lua Cheia.
A inflamar,
uma letra aberta, cristalizada, num epitáfio tumular...
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