Ibericum Peregrinatur
Jorge Luiz da Silva Alves
Em Lisboa, consagração: animado pelo galope de dois cavalares músculos em bombear hemodinâmico, abandonei-me por inteiro à peregrinação pelos encantos da peninsular paixão que carregara-me, meses a fio, em incerta e tempestuosa diáspora de meus credos arraigados; em Compostela, fiz o inverso itinerário dos monges do formalismo ético-social, abalroando penitentes, néscios no que tange a autenticidade dos desejos; em Toledo, armei-me para lutar - aço contra aço - contra as maquinações das abandonadas ao relento emocional; em Madrid, tivemos nossa Guerra Civil: dois miúras enfurecidos a impôr caprichos; Valência acolheu-nos em saborosas abluções à beira-mar; Sevilha, outra cruzada , católico-inquisidor versus moura-encantada; Barcelona, fizemo-nos encantadores para o mundo e monstruosos para nós mesmos... enfraquecidos por tantas contendas, resolvemos: um último e vibrante flamenco antes de transpôr os Pireneus, o nosso Rubicon - mas não ouvimos a trompa ou o retinir da durindana de Rolando nos desfiladeiros de nosso amor caliente, inigualável porém frágil e vulnerável ante a traiçoeira horda basca sobre o Magno desejo de imperarmos sobre tudo e todos, invejosos e certeiros... o epílogo de uma história tão bela, pura e maravilhosa que, agora longe da tempestuosa e fascinante hispanidade que revestia sua alma ígnea,merece um lugar na Eternidade, entre sonhos belos, numa fantástica e inesquecível viagem, Quixote e Dulcinéia, Eurico e Hermengarda, eu e vocês, saudades... Adiós, e vaya com Dios.