Poemas : 

"ontem não te vi em Babilónia"

 
chegavas
com a dureza das limalhas cravadas ao olhar
e num braçado de papoilas e mil trigos
regurgitados no Abril dos cravos…

cúmplice,
deitavas a cabeça nas minhas coxas
enquanto soltavas asas de voar ...
depois,
sereno e plácido, fundias o teu beijo em meu beijar
e sonhavas o horizonte peneirado em minhas mãos …

“ontem não te vi em babilónia”

e, d’ ausências prenhe,
intempéries m’assalariam a alma -
desordens cáusticas, tempestades
e vontades de me enlaçar
deslaça
na laça tenra dos teus dedos
dos teus medos
a soldo de não seres soldado, eremita ou pária…

“ontem não te vi em babilónia”.
dos vidros pontiagudos
cresceram verticais as águas
na fúria repentina das palavras porfiadas -
destas
que me faltam
‘ora, se escrevo amor em escassez de verbo conseguido.

“ontem não te vi em babilónia”...
e d’ inexistências se esvaíram forças
nos ralos largos
de um tempo fragmentado...

[…desassossego-me. agito-me quebrantada.
sou soluço e pranto, louco rugido,
fúria da vaga,
e logo,
e agora,
e já,
não sendo nada, em detença aquosa, soletro-te e bramo por ti].

“ontem não te vi em babilónia”...,
sim, não duvides sequer, que estava lá. ontem como hoje e sempre
… espero por ti!


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Tânia Mara Camargo
Publicado: 29/09/2008 18:18  Atualizado: 29/09/2008 18:18
Colaborador
Usuário desde: 11/09/2007
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Mensagens: 4246
 Re: "ontem não te vi em Babilónia"
Que espetáculo, caminhei pelos teus versos,
prenhe em ausências, aquosa, bramando e esperando...
Maravilhosa tu és! Beijos!