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COMEDORES DE SOBRAS(REPUBLICAÇÃO)

 
Tags:  REIS DA ESPERANÇA  
 
COMEDORES DE SOBRAS



No penúltimo halo da antemanhã,
Pessoas saem de seu humilde viveiro
Para buscar o combustível do corpo
Em um quase longínquo desterro.


E, ao chegar a seu destino,
A feira,
Esperam pacientemente
O ocaso da efervescência
Da harmonia desarmônica
Dos sóis de quem vende e de quem compra.



Então, quando advém a hora ansiada,
Afluem sôfregas ao encontro do tapete
De frutas, legumes e verduras
Que cobre o chão
Onde, sob os afagos rudes do dia-a-dia,
Rodas, sapatos, pés desnudos ou de sandálias
Apressada e inescrupulosamente pisam.


Ah, e como a fome delas
É canina e ao mesmo tempo conformista:
Um ancião desempregado
Amaina o vácuo em sua barriga
Com uma suculenta manga dormida.
Ah, quando alguém se depara
Com a horrenda fronte da fome
------ Sentada no trono de sua opulência ferina ------
Deslinda que o nojo é luxo;
Não uma alameda a ser seguida.





Algumas, ao regressar a seu ninho,
Comutam refugo em lucro:
O que na feira era lixo;
Na carente vila de casebres
É auspicioso fruto rentável, celeste, divino.


No entanto, para a hoste de grisalhas
Barbas engravatadas e garbosas,
Este paraíso da lídima e visceral miséria
É nada mais que um moribundo resquício
De seu passado sem rosas e azaléias.


Não, mas estas pessoas:
Estas pessoas sabem
Que a miséria cintila até o ponto
Em que assoma a dor nas vistas;
Que ela é viva, concreta, fenece, fere,
Queima e alucina.
E ela o faz de inúmeras maneiras:
Maneiras que a mais poderosa verve
Nunca sequer imagina.


Sim, todavia alheias aos mais atrozes sofismas,
Elas prosseguem crentes na vida:
Sempre a segurar a ponta do rabo
Daquilo que crêem ser a esperança,
Apesar do crepúsculo, das mazelas,
Das chagas em abundância,
Da dor, da amargura e da desabonança!
Enfim, elas prosseguem,
Mesmo com o mar infinito de desamor,
De inclemência, da ausência de ternura
E do culto da sentimental distância.
Sim, estas belas pessoas continuam a hastear,
Embora não saibam,
O estandarte do vislumbre de uma vindoura era magnânima.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA




SOU NATURAL DA CIDADE DO SALVADOR, BAHIA. NASCI EM JUNHO DE 1982.
NA VERDADE, SOU UM MENTECAPTO QUE TROPEGA PELAS
ALAMEDAS DA POESIA.
http://twitter.com/jessebarbosa27
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http://poetadorjesse.zip.net/
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Enviado por Tópico
Tânia Mara Camargo
Publicado: 29/09/2008 14:29  Atualizado: 29/09/2008 14:29
Colaborador
Usuário desde: 11/09/2007
Localidade:
Mensagens: 4246
 Re: COMEDORES DE SOBRAS(REPULICAÇÃO)
Caro Jessé, você é um poeta como poucos, tens
meu respeito e admiração.
Quanto a ter defeitos, quem não os tem?
Eu por exemplo vivo aprendendo através
da vida, não tenho formação universitária,
meio ceguinha, portadora de Espondilite
Anquilosante...Vês? Mas tu alcanças o infinito
com tua sabedoria e cultura. Parabéns sempre!

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/09/2008 14:53  Atualizado: 29/09/2008 14:53
 Re: COMEDORES DE SOBRAS(REPUBLICAÇÃO)
o poema é denso. não dá para ficar alheio aos versos da tua poesia, no entanto; o fim de feira é um oásis em comparação aos lixões.
abraço fraterno Jessé.
Silveira

Enviado por Tópico
cirodiverbena
Publicado: 29/09/2008 17:02  Atualizado: 29/09/2008 17:02
Da casa!
Usuário desde: 11/07/2008
Localidade: Votorantim - SP
Mensagens: 223
 Re: COMEDORES DE SOBRAS(REPUBLICAÇÃO)
É meu amigo poeta...E nós ainda conseguimos dormmir em nossos lençóis de egoísmo, saciada a nossa fome de luxúria, em nossa cama de indiferença e resignação mesquinha...Belo poema meu grande amigo...Parabéns... Ciro!

Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 29/09/2008 18:22  Atualizado: 29/09/2008 18:22
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: COMEDORES DE SOBRAS(REPUBLICAÇÃO)
Forte
Intenso
Ninguém que o ler, poderá ficar indiferente ao seu conteúdo!
Li-o como se estivesse a ver um filme...

Muito bom, mesmo!

Beijo

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/09/2008 19:34  Atualizado: 29/09/2008 19:34
 Re: COMEDORES DE SOBRAS(REPUBLICAÇÃO)
Retratos do nosso tempo...
Agora de onde vem a esperança "dos comedores de sobras"... Ah, muitas vezes fico pensando, no meio do "êxtase e da depressão"!
Entendo seu recado amigo poeta!
parabéns
Edilson

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