Acordar, sair da cama, agir, comunicar. Todos nos repetimos no essencial, nos gestos e nas acções. Basta pensar na respiração e no batimento cardíaco. Quem os não tem e esteja vivo? A alimentação, o trabalho, actividades sociais, recreativas e outras estão na base da nossa existência e desenvolvimento pessoal. Consciente ou inconscientemente, todos influenciamos o meio que nos rodeia, uns para viver, outros para sobreviver. Cada um dos indivíduos que abundam por aí, e que se formos francos não teremos dificuldades em reconhecer-lhes direitos de vida iguais, pensam diariamente como vão pressionar a sua bolha de influência, para usufruírem das melhores condições de vida ao seu alcance. Algo tão natural que é comum a todos os seres vivos, independentemente do tamanho, da complexidade e do seu reino. Aparentemente tudo está bem, então, já que segue a sua natureza. Há no entanto um problema, e grande, um grande problema de escala. Não no número de almas, que esse ajusta-se sempre de forma automática ao potencial de sobrevivência de cada área. O problema reside na dimensão crescente em que a acção humana tem vindo a transformar a dinâmica da natureza. Até à revolução industrial, a actividade humana era limitada pela força própria, dos animais, e de engenhos mais ou menos rudimentares, mas em geral limitados no seu impacto. Foi o surgimento da exploração de formas energéticas mais densas que, na sua extracção, transformação e utilização, trouxeram consequências nefastas em troca de conforto, bens e serviços. É quase unânime que os aspectos negativos são um mal necessário para melhorar o nível de vida que temos, ou no mínimo, para não o perdermos, e assim são aceites passivamente, atitude que degenerou no agravamento das consequências até ao ponto actual. Embora ainda estejamos próximos do ponto de não retorno, segundo uns, ou já em cima dele, com irreversibilidades graves, segundo outros, a inércia de mudança vai atirar-nos muito para além dessa charneira. De agora em diante é o tempo de corrermos atrás do prejuízo, também pelos nossos filhos e netos, mas sobretudo por nós próprios, pois começamos a sentir na pele algumas transformações mais ou menos subtis. Alguns recursos começam a rarear, petróleo, ar limpo e água, para nomear os mais sonantes. De qualquer forma, rapidamente se consegue saber que as reservas de combustíveis fósseis ainda são razoáveis para os níveis de consumo actuais. Mas, com a continuação da carburação desta energia de forma crescente, o ar limpo tenderá a rarear ainda mais. Com a continuação da produção de bens para satisfazer os nossos caprichos, existe cada vez menos água potável, menos floresta, menos factores de produção. Os equilíbrios biodinâmicos, o verdadeiro suporte da vida no nosso jardim global, desaparecem rapidamente com a desflorestação, com a monocultura em grande escala e com as químicas que garantem a produtividade que nos alimenta a todos. Portanto, à medida que vamos resolvendo os problemas com soluções mais fáceis, vamos agravando-os, dificultando no futuro a sua verdadeira resolução. Já não podemos esperar confortavelmente que eles, sejam lá cientistas, engenheiros ou políticos, resolvam a situação. É urgente pensar no impacto de cada gesto da nossa pequena vida, no sistema global que nos acolhe. Procurar e reflectir sobre as alternativas de que dispomos, tentando dar um sentido de grupo às nossas vidas. Reorientarmo-nos para objectivos comunitários, e não só para objectivos pessoais. Serão as pequenas acções de todos, e não as de meia dúzia de pessoas, a resolver este problema de uma escala desconhecida para o homem. Vivemos uma oportunidade de reformular os nossos objectivos de indivíduos inseridos em comunidades, de nos unirmos em torno de uma causa comum, com entusiasmo e respeito mútuo.
Boa semana!
Garrido Carvalho
Julho '08