um dia apagaram-se as luzes e a cidade escondeu-se na beata do cigarro que tinha acabado de te fumar. estavas no sítio do costume, o bar ao fundo da rua antes da curva que dava para o minimercado, na mesa do lado esquerdo junto ao balcão, sentado com o casaco abandonado na cadeira ao lado e o copo de brandi na mão. pensavas, como ainda pensas, que o amor não morre. quando ela te ligou a madrugada não te deixava adormecer as paredes da casa, tu não sabias ao certo que lenha te ardia dentro do corpo mas a tua pele era cinza, os teus ossos brasa, quando ela te disse que o amor que te tinha era agora um corpo morto, arrancou-te o coração, ou o pouco que dele em ti ainda existia. não falaste, a fala mordeu-te a língua com palavras que te incharam na boca e as tuas mãos foram comidas por bichos. a casa que em ti morava agora era feita de escombros que acolhiam pela noite o sono de um bando de drogados. o que de ti sobrara arrastava-se pelas ruas, sempre pela sombra que das árvores caía no passeio, o teu rosto era uma máscara de pele queimada escondida debaixo de um cachecol. ainda não acreditavas que o amor podia morrer, ainda não. e no bar ao fundo da rua antes da curva que dava para o minimercado, na mesa do lado esquerdo junto ao balcão, tu esperavas a ressurreição do amor.
. façam de conta que eu não estive cá .