as mãos são esguias e falam com a voz dos homens, falar a voz dos homens não é tarefa fácil quando se não é homem nem se tem fala e os seus dez dedos engolem palavras que corpos matam à pressa, como se a morte fosse mais simples se fosse rápida. as mãos choram a morte de umas quaisquer palavras tardias, palavras que lhes trouxeram memórias de dias menos felizes e as mãos falam, gritam para lá do mundo que habitam, uma dor a servir-lhes de encosto num corpo quase morto. as mãos semeiam gestos, cortam o ar com risadas, rasgam algumas palavras, matam muitos silêncios, silêncios presos por detrás da orelha, segredos de mãos a abrir-se como flores.as mãos estão pálidas e a fala engole-lhes o trajecto seguinte, param, aconchegam-se uma à outra enquanto o corpo que lhes reclama movimento cai estatelado no chão da casa. na brancura de que agora são feitas, as mãos calam-se, as mãos morrem e a morte é simples.
. façam de conta que eu não estive cá .