um dia chegou-se a mim e profanou-me o ouvido com palavras, palavras de desejos vestidos de pecado, depois deu a volta ao meu corpo e respirou-me o querer antecipado, deitou-se sobre o meu peito uma tal vontade de lhe lançar as mãos, que a tive de sossegar enquanto lhe falava do dito por não dito, dos dias que eram maus, da traição que me acontecera no outro dia. ela enroscou-se ao ar que lhe entregava, não dava pontapés, assobiava a canção de quem sabe o que está a fazer e com o cigarro ao canto da boca, deixou-lhe o branco pintar-se do vermelho do baton e descruzou as pernas, por fim saiu da sala e a minha voz falava sozinha com as paredes onde o desejo preso estava. fiquei ali por tempo indeterminando, tentando inventar mil formas de a tomar nos braços, alguns jeitos de lhe levantar a saia, uns modos menos civilizados de lhe arrancar o baton dos lábios. quando ela voltou já me tinham ido buscar as minhas filhas, que a mãe estava internada no hospital, foram dores qe lhe chegaram sem que soubesse de onde, podem ter sido facadas de arrependimento ou tiros de uma traição não concretizada.
não sei.
. façam de conta que eu não estive cá .