Os telhados que a minha vista alcança na janela com que me brinda o gabinete que ocupo tantas horas por dia, tornaram-se já de um tijolo escuro, fruto da humidade e da chuva miudinha que insiste em alertar-nos para o Outono que chega.
Em ala ordenada, as fachadas cinzentas, azuis claras e amarelas sobem a colina ligeiramente inclinada .. uma de tantas da nossa gentil cidade. Ao fundo, bem ao fundo, numa esquina de vidro que a vista ainda abarca, as árvores oscilam em brisa serena que cheira a maresia, maré cheia. Agitam-se as bandeiras cravadas no passeio na despedida de um tempo quieto que, até há pouco, as fazia transpirar. O céu cinza claro, em abertas azuis, poucas, pequenas e redondas, como que acenos de uma estação que sabendo ter de ir não se quer despedir.
As andorinhas que ocuparam em chilreios os tectos da garagem partiram deixando os ninhos vazios e sem sons. Sem vida. Folhas grossas, na maioria ainda verdes, atapetam a entrada do edifício que é virado ao vento para desespero da senhora que, todas as manhãs, se afadiga de volta da vassoura.
É o Outono que chega, suave, em tons nacarados, não muito escuros, estação que tenta instalar-se .. ainda cheio daquela timidez que o caracteriza, ele que não entende como pode o Inverno ser da brusquidão e do desatino, o Verão intempestivo arriscando secar gargantas e a Primavera cheia de humores e amores, tão inconstante que cansa.
É o Outono que chega sussurrando baixinho: veste um casaco :)