"Eu queria estar só de um modo inusitado, totalmente novo. O oposto do que vocês pensam: isto é, sem mim e, portanto, com um estranho por perto. (...) Assim eu queria estar só. Sem mim. Quero dizer, sem aquele "mim" que eu já conhecia ou pensava conhecer. Sozinho com um certo estranho que eu já sentia obscuramente não poder afastar para longe, que era eu mesmo: o estranho inseparável de mim." (Luigi Pirandello)
Eu queria estar só, “sem mim”, assim, não teria que me aturar!
Não esse Eu, que quase conheço...
Não!
Eu queria estar só, sem esse Eu explicável, óbvio, teatral, funcional, cartorial de mim!
Queria apenas ficar só e deixar por cima de todas as camadas que sou, a estranha inseparável de mim.
Estar só com o Eu que tem coragem de virar a mesa, de dizer sem pejo sobre desejos, tesões e saudades. O Eu que não se enrosca pelos espinheiros da vida, porque simplesmente diz na exatidão da hora, a difícil palavra: não!
Quero meu Eu inconseqüente, leve, alegre, que ironiza os complicados, os covardes. Quero meu Eu sem razão, pois nenhuma razão é muita para explicar solidões.
Que se danem papéis, (e também os mal interpretados), convenções, costumes, que como o nome já diz, são ranços e velhos, porque de tudo na vida se cansa!
Quero meu Eu novidadeiro, livre, desprovido de polícia, solto para fazer do que entende, e do que desentende.
Assim, serei um perigo, um atentado ao pudor, uma negativa ao esperado, ao que é montado (com o maldito duplo sentido), e ao que é usado por simples comodismo, inércia ou incompetência.
Então assim afastada, desse eu que eu já conheço, ou que penso conhecer, vou me aproximar de você...
E a minha solidão, a minha cadeira vazia, as minhas noites insones, vão demonstrar que a solidão... essa dor fina e aguda, é apenas e tão somente, a falta de você!
(Pergunte o que vou beber. Só então chame o garçon, peça duas taças e o vinho...”sangiovese”, por favor!).