Não entendo nada da realidade nem da metafísica.
A minha ideia de mim mesmo é torpe.
Como torpe são os passos num caminho que não vislumbro.
Quero dos sentidos a humana sensação de estar vivo,
De olhar cada homem meu irmão e sentir-me inteiro.
Vêem como nada conheço da realidade?
Que palpável emoção posso, neste nada que me sublima?
Nos sonhos escritos na areia da memória que o vento apagou?
Ah porra, não me dêem lições de anatomia transcendental.
Não me vendam ilusões que a única ilusão é a morte!
Querer mais do que ao humano destino é destinado?
Não, não me tragam vis lições de moral,
Vos que tão vis foram e mais vis vivem abaixo dos céus.
Quero a sentir a humana paixão.
A ilusão de a merecer e nela me consumir até ao último fôlego de vida!
Perder-me por veredas em planícies frias e disformes,
Carregadas de Rosmaninho e Madresilvas e Alecrim silvestre.
Quero aquele riso quente num fim de tarde inverno,
Misturado com quentes cheiros e ensurdecedores silêncios.
Quero as páginas do velho livro onde renasço e pereço!
Ah, a mortalha daquele corpo onde humildemente me fundo.
Não, não me tragam ensinamentos das vossas fúteis vaidades.
Intolerância, na vossa pseudo castidade parida e esconjurada.
Serei morto ou vivo mas em minha carne reconstruído,
Em minha alma abençoado e amarei até ao infinito.
Não, nada entendo da realidade nem da metafísica,
Que a única realidade é o leito desse peito que anseio.
E a metafísica, o sono perene em que me deleito.