Crónicas : 

Ó fardas para que te quero!

 
Finalmente e, após várias insersões em debates de out-doors, em desfiles por estas ruas direitas, mesmo antes do surgimento da pirataria, do comando à distância, do shampoo dois em um, chego à conclusão que, são os homens que botam farda por cima dos seus corpos que mais sucesso têm com as mulheres. Admire-se!

Soube nesses entretantos que a farda tem um poder persuasor, provocante, excitante, uma chaves de judoca que agarra qualquer mulher e bota-a no tapete para seu uso.

O bombeiro Quintas já me tinha secretado que, desde que a farda começou a fazer parte da sua vida - que só a tira para o exame da rectoscopia - o número de piscadelas e piropos femininos (masculinos poucos) não param de aumentar, de fazer furor e a mover sensibilidades, ao ponto da do segundo direito ter enlouquecido por um dia ter tocado nela.

Logo que sai de casa pela manhãzinha, as senhoras que estão debatendo o progresso na padaria vêm à porta depositar suas babas e seus uis.
O padre da paróquia ao topar que assim é, olha com desdém a sua batina. O farmacêutico, sem ninguém saber, mandou vir uma de Espanha no intuito de obter mais sucesso nos esquemas à media luz.

A farda do polícia é das que mais causa distúrbios nos corações da moçada.
Em plena rua algumas viram autênticas galinhas mitológicas penicando na sua própria pele perguntando: “por que é que eu não tenho um destes lá em casa?!”.
De facto, aquele aspecto lavado (exteriormente) com um toque de Lili Caneças, um de ar de fadista que precisa de dois bagaços para afinar, é uma bomba para a fidelidade. É que aquilo atrai mesmo! Inclusive borboletas e moscas que estacionam nas beiras das estradas.

Como dizia eu, verifiquei esta tendência das mulheres perderem suas resistências perante um fardamento, quando uma moçoila de Vilar de Perdizes fugiu com o ciclista que vinha em último lugar na Volta a Portugal, fazendo este um desvio na rota, com a sua Sallete atrás, rumo a Espanha para a núpcia nupciante.

Os porteiros modernos, que agora se vestem tal o noivo no dia do casamento, usufruem das vantagens de terem sobre os seus mantos de cicatrizes uma farda que, pode não dar respeito nenhum, mas que passou a ser um foco de miragem sobre as raparigas, isso sim, nomeadamente as que moram nos cimos dos montes e usam bigode de fazer rebelia no encontro nacional de bigodagens.

Mas afinal o que é que tem de interessante uma farda para além de poupar a esposa em lavagens? Como disse, a minha experiência no campo da observação escancarada, a somar vectores, rios com mares, a conclusão que tiro é: toda e qualquer farda provoca excitação, a sua perfeita combinação de cores trata de cegar os corações das mulheres; que ficam tão loucas como se um cantor de música sartaneja lhes cantasse bem perto dos seus ouvidos.

Mas nem tudo é fado. O senhor Ramiro, após dezasseis anos a envergar a farda noite e dia, um dia cansou-se dela e, como consequência directa resultou-lhe o divórcio. Uma vez sem farda já não era o mesmo quiduxo que ela, a sua “esponja”, um dia conheceu, e recorda aquele Domingo ao pé do fontanário, com voz trémula:

- Assim que vi aquela farda azul no meio de vinte homens fiquei logo outra. Não era bem os seus olhos nem a sua Vespa. Foi a farda que ele trazia vestido! e que agora, esse excomungado, se lembrou de a deitar fora!
Depois disto, um choro tão intenso como na altura de dizer Sim na igreja, causando uma mancha no fardamento do noivo. Mas que a alegria havia de reparar todas as manchas.

A farda funciona como um íman, só que, o inconveniente desta funcionalidade, é que ela não consegue separar os sexos, então, atrai toda a gama de gente. O que se está mesmo a ver a trabalheira que dá em ter de se esquivar de alguns maganos que usam lencinho de fora no bolso da jaqueta.

Ter farda ou não ter eis a questão! Em segundo lugar no que toca a destroçar corações, vem o fato-macaco que, apesar do seu aspecto brejeiro e naftalinoso, possui características aromáticas que atrai qualquer fêmea desprevenida ou mal casada.
O seu aspecto de quem sofre de incompreensão torna-se numa máquina de inventar elogios, vai daí que, a aproximação a estes portadores de fato-macaco seja vista com desdém, nomeadamente pelos maridos daquelas mulheres que saem à rua com o olho à belenenses.

O fato-macaco pode não ter um corte à Valentino, pode não ter dupla costura, forrado a penas ou a brancura da fronha do Mickael Jackson, mas numa coisa ele fica a ganhar: é que são dois animais a pensar: o homem e o macaco. Enfim, uma autêntica armadilha para as solteironas que sonham casar antes que sejam aclamadas de tias.

A farda militar surge logo atrás, com o seu aspecto multifuncional, onde os bolsos mal costurados permite-lhes coçar a virilha sem perder a letra do hino.

Se um destes dias me virem na Vandoma à procura de uma farda que me sirva, digam a quem não leu esta crónica que eu agora ando fardado porque vou combater, assim, evito problemas lá em casa, caso contrário, ó fardas para que te quero!
 
Autor
flavio silver
 
Texto
Data
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1963
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