Em toda a minha vida, vivi rodeado
de gente falsa, incluindo supostas
namoradas, apenas de olho na droga,
que eu possuía e tinham tal como algo
adquirido, julgando que trocar sexo por
droga, a isso tudo se resumisse e eu
estivesse disposto a tal facto.
Mal sabiam elas, de meu forte carácter,
e, muitas das vezes, precisei de ser
rígido na palavra, para afastar esta gente,
de minha vida, que, diga-se, de nada valia,
mas respeito à minha pessoa exigia, pois
que não me vendia, como a um qualquer
prostituto, só porque tinha poder nas mãos.
Nunca aceitei, como moeda de troca, nada
que tivesse sido roubado, embora até
entendesse as suas e a minha miséria. Mas
para mim era ponto assente: dinheiro numa
das mãos, droga na outra. Muito sorriso
forçado, máscaras e outras ignominias, eram
o meu pão de cada dia, ansiando minha dose.
Mas as contas, que tinha de prestar aos
superiores, foram deixando seus resquícios,
de anos e anos, mantendo-me controlado,
mas só por fora, que dentro doía e consumia,
meu corpo enfraquecido, onde sol e noite,
já não distinguia, no fluxo e refluxo de gente,
apenas com o mesmo intuito e fútil conversa.
Então resolvi fugir, levando-lhes a droga toda,
já que o trabalho era todo meu. E, quando a
súplica se instalou, senti-me ofendido e
manietado: caminhei em direcção ao Norte.
Longe estava eu de imaginar, que, tão longe,
me viessem a descobrir. Tudo perdoaram, assim
voltasse a trabalhar pra eles: não mais! Disse…
Agora estava por minha conta, acabara-se as
facilidades. E o que antes rejeitava, pois foi
caminho, por onde tive de enveredar. O mais
é triste e infame, para que eu aqui relate, mas
de nada esqueço e com isso vivo até hoje.
Nunca bati em ninguém, seria o mesmo que
fazê-lo a minha mãe, mas muito mal cometi.
Jorge Humberto
21/09/08