Observou o fumo que se desprendia do charuto aceso na sua mão…
Formas disformes como memórias de um amor antigo fulgiam,
opacas, ar acima…
De quando em vez saboreava um charuto, com prazer…
porém nunca havia comparado o fumo às suas memórias…
E eis que ali as via, nítidas, como palavras envelhecidas
em papel amarelecido por um tempo sem retorno…
Claras… contundentes… significantes…
Assim eram as memórias que guardava desse amor
que um dia acreditou sentir,
sem perceber que o personalizava na pessoa errada…
na pessoa que não soube compreender o Amor em si mesmo
e lhe exigiu sacrifícios impossíveis de suportar…
que cobrou o que lhe não era devido…
que desprezou o que recebia
porque não lhe bastava a felicidade, queria dor, mágoa, amargura…
alguém a quem o medo toldou o passo…
Guardou esse alguém na gaveta do esquecimento
porque não encontrava razões para relembrar…
Amor sempre sentiria…
porém não dependia de personificação…
existia dentro de si mesma, pleno, universal…
Assim o via correspondido, agora,
por um outro Alguém que nada lhe pedia em troca…
Porque o Amor, quando verdadeiro, oferece-se…
e sem esperar é retribuído…
incondicionalmente…
(Imagem de autor desconhecidos com efeitos de editor by Zita...)