Vem noite, consome a centelha do meu dia,
Pinta de luto a minha vida… Devora-me…
Solto gritos desalmados, sem voz,
Atropelados por ideias sem nexo,
Choros silenciosos, lágrimas visíveis só na alma…
Vem noite, torna-me menos humano,
Inerte, sem emoções nem êxtases.
Descarrila o vagão do meu destino na incerteza.
Não me importo…
Nunca o vi completo…
Vem noite, bate em mim,
Como mar de ondas mortas,
Nas febris angustias excessivas,
Ou como treva infinita e tranquila
Que pousa em sonhos mal sonhados…
Vem, estendo-te as mãos,
Te apelo nas convictas razões,
Por entre orgias intelectuais de sentir-te,
Para que te não esqueças de mim….
Vem, estou farto de ser alegre a fingir,
Quando finjo ser alegre…
Vem, e consome a falsidade,
Abraça-me em teu luto, consome-me, devora-me,
Estou farto da luz monótona de cada dia,
Em que permaneço em mim desacordado…
Paulo Alves