Invade-me o tempo, que com lágrimas de chuva me vem molhar o corpo desprovido de protecção. Assola-me o frio que na imensidão escura do vazio vem soprar-me ao ouvido. Escuto os lamentos, breves momentos em que me falas do outro lado do Universo. Escuto os prantos que em suaves desencantos me arrepiam a pele.
Seguro entre dedos a luz de uma chama, farol que marca o limite do corpo, o início do abismo que há minha frente se precipita sobre o nada. Oscila ao sabor da tempestade que acorda todos os sentidos deixando o corpo alerta para a forte tormenta. O céu chora intensamente sobre mim, lavando-me a alma, purgando-me as penas.
Mas, cá dentro do peito, escondida entre recordações de todos os tempos, paisagens agrestes e ilhas luxuriantes. Caras, rostos perdidos entre milhares de fotografias, papeis amarelados, amarrotados, desgastados em letras que teimam em não se apagar. Encontro a tua alma, embrulhada em cetim, como uma flor que a idade não murchou, com a suavidade dessa menina que a idade criou.
E só dentro de mim te encontro, neste castelo vazio de gente, que resiste, firmemente, ao caos que a vida provoca lá fora.