é assim que te vejo, sentado perto da janela com um cigarro entre os dedos da mão esquerda enquanto a direita segura uma caneta, um cão late ao fundo da rua que é estreita como as tuas mãos. o fumo do cigarro confunde-se com o fumo de um incêndio cerebral que ninguém extingue e no madrugar dos meus passos sobre a rua ouve-se o peso dos teus, em redor do quarto que é a tua casa. a tua casa tem paredes murchas como as flores do canteiro no jardim em frente, às vezes choram como as crianças dos teus vizinhos e o tecto, que abafa os sentimentos com traços de humidade aqui e ali, às vezes morre-te nas retinas dos olhos que escancarados o tomam como família. há pardais a abeirarem-se da tua janela e a madrugada abafa o teu silêncio de mansinho, quando te dás conta é manhã e a cidade berra-te na buzina dos carros parados no semáforo ao fundo da rua, a rua que é tua e é estreita como as tuas mãos. o teu corpo balança-se contra o tempo parado num relógio que a parede desleixada segura a custo, as horas são pesadas meu amor e o tempo que tens não chega para que te não sintas só. e eu fico a ver-te deitar sobre a cama que é feita de palavras monocórdicas e textos escritos á mão. amanheces-me no peito que é rua estreita com carros parados no semáforo a buzinar.
. façam de conta que eu não estive cá .