Se às vezes, falo de meu passado,
não é por saudade, desses tempos,
bem longe disso, serve apenas para
não me olvidar do que sofri e para
não deixar nenhuma porta, atrás de
mim, aberta, que me possa falsear
acontecimentos, do sofrimento vivido,
trazendo-me apenas à lembrança o que
possa ter havido de «bom»…
Infelizmente ou felizmente, tive meu
tempo, para aprender, o que acabo de
relatar. Porque normalmente, a mente
só nos traz o «bom», esquecendo tudo
de mal porque passamos, tão simples
assim e mais do que provado… por isso
falo, mantendo o monstro preso e criando
novos caminhos, bem mais saudáveis,
para a minha vida e da dos que me rodeiam.
Era uma vez um jovem, que farto da mesmice,
do dia-a-dia e querendo saber, até onde
poderia chegar, que sozinho descobriu o trilho
das drogas. Nunca nada era suficiente pra ele,
e, depressa, viciado se tornou, em certa noite,
acordando cheio de dores atrozes. Não logo
associei uma coisa à outra, adoecera – pensei,
mas os dias e noites sucediam-se iguais, se acaso
não tomasse as doses necessárias.
E assim se passaram anos atrás de anos, sem
nada se alterar, a não ser a minha condição
física e mental, sucumbindo aos efeitos nefastos
da «maldita». Saí de mim, abri portas de percepção,
até que já não reagia, sem as minhas tomas diárias,
única condição para me levantar e fazer minha vida.
Não podia continuar assim, e, fechando-me em casa,
sofri a bom sofrer, durante vinte e três dias sem
dormir, até alcançar um pouco de paz e sanidade.
Regressei; deixei; mas em mim algo tinha mudado,
deixara de endeusar a nefasta coisa e sabia que
teria de haver um final definitivo. Caminhando para
os quarenta, pus um ponto final, até hoje em dia.
Mas tal como iniciei este poema/relato, uma coisa
gravei profundamente no meu pensamento, não
esquecer por um instante, esse meu longo passado,
de uma utopia, que durou meses e tudo o mais foi
uma mentira por inteiro, que me levou atrás de si.
Jorge Humberto
16/09/08