A noite já vai longa em sua penumbra
enganadora. E há um feitiço que nos
prende a ela, como as sombras, que se
colam às paredes, das coisas estáticas,
reclamando sua posse.
Prende-se a imaginação e vagueia, como
que desnorteada, por vãos de escadas e
esquinas assimétricas, lembrando como
todo o sonho pode ser distorcido, na
escuridão absoluta, reino de outros seres.
Apesar disso os ruídos tornam-se mais
nítidos, e, procuramos, com os olhos vagos,
de onde eles virão, para que enfim possamos
decifra-los, deixando-nos menos alheios,
à nossa tremenda insuficiência humana.
A espaços, quando a luz da lua, incide na rua,
silhuetas correm ante nós, como num filme
a preto e branco, e, aí, reclamamos o espaço,
agora visível. E embora tudo seja fugaz, por
momentos, sentimo-nos parte da paisagem.
Isto até a lua voltar a esconder-se e acordarmos
para a realidade cega, através do pio de uma
coruja, que só a sabemos ali por imaginar. Não
podendo ir mais além, fechamos janelas e
estores e regressamos ao conhecido, que, o
quarto iluminado, nos reserva.
Jorge Humberto
14/09/08