Poemas -> Amor : 

Linhas metálicas

 
corcéis de chama acerejada talham as noites
de mistérios fundeados. albatrozes
sussurram voos erráticos, circunstanciais,
no acasalamento primaveril dos animais.

aqui ao lado, na estação, um comboio
desocupado, projecta na colina adjacente
enlaces resplandecentes.
observo. lado a lado, duas linhas paralelas
se avistam e não se tocam, mutuamente se reflectem
mutuamente se amam, mutuamente se desejam.
ladeadas, duas férreas linhas metálicas borbulham-se
em margens explosivas. sibilam faúlhas ávidas.

na fronteira do medo, dois amantes
segredam cânticos enamorados no vento soprado
nas espumadas pálpebras do fim dos dias.
um conto envolto em véus turbulentos. alegorias.
voláteis, asas de gaivotas
espumam-se na melancolia de ondas...

olho através da vidraça. agora o comboio
desliza numa sombra felina que passa.

na boca de uma mulher, resvala uma gota de prata.


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Autor
Mel de Carvalho
 
Texto
Data
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1781
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