Paro, deixo ouvir o silêncio, como testemunho deste breve momento. Escuto, o vazio perfumar-se de incensos, o nada vestir-se de luz e a música fazer tocar os instrumentos. Deixo a voz sentir o grito, as mãos agarrarem o ar como instante em que quero ficar. És noite em mim, momento secreto que escondo no peito. Paixão ardente que consumo. Flor de perfume perfeito.
Sou teu, pedaço de vida perdido, lugar algures esquecido que visitas na ânsia de não te apagar. Sou chama eternamente acesa, fogueira que se consome em brasas escondidas, cinza quente que aquece ter corpo dormente. Sou tecido que te veste, véu que tua nudez esconde, encontro imediato, vertigem que teu ventre estremece.
Abro o Sol no meio da tua noite, faço-te mulher em meus braços de chuva, como água, pura que te inunda, como êxtase profundo que te penetra num orgasmo, num eclipse da mente sobre o corpo, como o fogo que queima a água, como o frio que derrete a cera. Gritas, porque não consegues conter o prazer, porque te sentes plena em mim, porque me sorves em tua inspiração.
O universo contrai-se, juntamente com os corpos em plena explosão, sensação que nos tolhe e inebria. Caímos, no abismo da nova imaginação, no vazio da nossa própria realidade.