"Ah, se o sol me levasse
num dos seus raios de adeus!
Se me vestisse de púrpura
e me arrebatasse assim,
em langoroso abandono..."
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O sol sorriu, e eu vi
uma nuvenzinha rubi
passar de leve o seu rosto
num traço lábios de mosto,
brincando de beijo quente...
e abraçou-me, envolvente,
em morno estertor de adeus,
fazendo corar os céus.
Na magia do momento
afastou o meu lamento
do dia já morredouro,
da noite de escuro agouro
(tão meiga, a sua malícia,
tão doce, a sua carícia!),
deitou-me sobre uma nuvem,
fez-me esquecer a vertigem
do lado oposto do mundo,
adoçou no mar profundo
o lado obscuro da sombra...
num voo de sacra pomba,
mereci sedas d'aurora
bordadas a luz tão clara
que desatei os meus laços
e madruguei nos teus braços:
terno amante, sol de março!
Teresa Teixeira