Acordou a manhã adormecida no coágulo da palavra espessada
pela intempérie inopinada. Temporal provindo do findo Sertão …
Acordou como viveu! Sem flama, sem clarão, sem emoção
exteriorizada. Silenciada… na inutilidade do Sol a nascer…
(Buscava-se apenas um filamento de céu… O amor a acontecer…)
Acordou purpurina na cor das violetas africanas,
dentro da algazarra de pupilas meninas… Aplainadas,
alimentadas no sal da areia perpetuamente salgada…
Porque me doem as palavras nos dedos frios das madrugadas?
Esses factícias que me povoam intemporais na sequência das vidas?
Esses que, suicidas, asfixiam gestos meigos de tão ternos …eternos?
E porque me buscam esses orifícios oculares, vermelhos, pulmonares?
Porque é que a minha pele se esbate em desalento, noite a dentro,
vela palanca sem vento, à deriva, a naufragar dentro da noite
abruptamente rendida?
E esse cheiro bastardo, pestilento, sempre infecto, mofado, adocicado,
a sangue seco, retalhado, colado à alma da pele?
Negra. A esvoaçar à flor das coisas? E o zumbido ferido,
o silvar aos ouvidos da magoada brisa, na força do chicote?
Este zoado no ar despovoado? (Não, não estás de novo a meu lado…)
E este peito arquejado, cansando de te buscar na sanzala incendiada…
Tanto tempo e um quase nada … Estou tão cansada!...
Acordou a manhã no vómito indómito de sarcasmos destemerários.
Acordou no corte magoado dos pastos pela boca dos animais.
Acordou a manhã a jubilar na míngua e no anseio em desejos
desiguais. Que os nossos passos colados, na greda desta vida,
caminham continuadamente em sentidos contrários.
Acordou a manhã cor do café, nos terreiros gastos dos pés…
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