Toda terça-feira e toda quinta-feira tenho aula de dança de salão na escola de dança do Jayme Arouxa. Adoro aprender a dançar e, por isso, dificilmente perco uma aulinha sequer. Vou avançando em passo lento, mas sempre avançando. Assim mesmo, um pé depois do outro. Toda terça-feira e toda quinta-feira saio do trabalho sempre na hora do almoço, pego o metrô na estação Cinelândia e em 15 minutos já estou em Botafogo, colocando meus sapatos mágicos de dançar a dois. O almoço sempre fica para depois da aula. Quando o estômago já enconstou nas costas.
Outro dia quando estava indo, ia bem sentado ao meu lado um rapaz vestindo um tradicional jaleco branco. Talvez fosse um estudante de fisioterapia. Talvez um massoterapeuta. Talvez um técnico de laboratório. Médico realmente não parecia. Dali a pouco ele estava lendo seu jornal. E eu, lendo o jornal dele. Discretamente. A viagem transcorria silenciosa até que percebo que meu colega anônimo pega a caneta no bolso do jaleco e hesita um pouco.Tomo um susto. Não. Não seria possível. Será que o cara-de-pau teria coragem? Não tenho mais idade para isso... Vai pedir meu telefone e anotar no jornal? Disfarço. Não. De jeito nenhum darei meu telefone para um qualquer. Será que não reparou a alinça no meu dedo? Eu tenho filhos! Mais respeito! Ainda mais, não era um cara nada cheiroso. Nunca daria meu telefone para um cara nada cheiroso.
Engraçado como podemos pensar tantas coisas em tão poucos segundos. Mas meus pensamentos foram interrompidos porque o homem do jaleco enfim tomou uma decisão. Olhou bem nos meus olhos e perguntou: Você se incomoda em me dizer o nome do perfume que você está usando? É tão cheiroso e ao mesmo tempo tão diferente... Gostaria de comprar um, para minha esposa.
Pois é. Já diria Nelson Rodrigues: Essa é a vida como ela é. Refeita do susto (segundo um adorável professor do meu filho, “susto é sempre culpa”) expliquei para meu companheiro de metrô que o perfume foi um presente de aniversário que ganhei de um amigo (coincidentemente amigo da dança de salão, coincidentemente um massoterapeuta). Vermelho, acho que é o nome do perfume. Acho não. Achava. Porque agora tenho mesmo certeza. Um perfume feito de pitanga. Também acho muito exótico e, ao mesmo tempo, muitíssimo maravilhoso. Brigadinha, Jorge! O perfume que você me deu, já diriam os mineiros, é mesmo um “trem baum”.
Não vou aqui chorar minhas pitangas, porque não quero ficar parecendo para lá de azeda, mas esta história não é mesmo “engraçadinha”!?!?
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