E há uma chuva persistente,
bem para lá de minha janela, aberta
ao mundo e aos recantos mais
fugidios.
De tão persistente, tudo molha:
árvores, jardins, animais e pessoas…
num leve romantismo,
na sua partilha com a natureza.
Gris se mostra o céu, prenhe de
nuvens cerradas. Dir-se-ia, que é
chegada a hora, de todas as
nostalgias.
Entanto não deixo de reparar, que
os pescadores, estão de regresso
a casa, dando ritmo endiabrado a
seus barcos, para que logo aportem,
na foz ansiada, e, possam, assim,
abraçar a saudade de seus filhos e esposas.
Chuva, mãe de toda a abundância,
não cessa seus desígnios. E há um
cheiro a terra, prenúncio de vida,
pronta a despontar, filigrana a filigrana.
E um jovem, mais apaixonado, enfrenta
a intempérie, para interiorizar num jardim
e escolher a flor preferida, de sua amada:
vejo-lhe no rosto limpo e nos olhos
a surpresa, que ele julga, por ela desejada.
Quanta beleza, há na chuva! Cai porque cai
e assim está certo.
Fora eu um louco e andaria
ao seu ensejo, quem sabe rindo de mim
mesmo, ou no sabor inolvidável, de fazer
parte de sua intrínseca beleza, que não
regateia o quê ou quem molha.
E há uma chuva persistente, para lá
de minha janela e todo o verso é pouco,
para dizer de minha alegria.
Jorge Humberto
05/09/08