Quando eu era pequena,
Recordo que me embalavas nos teus braços,
Que me protegias como se fosse tua filha,
Até me deixavas trepar às arvores,
E rias desabridamente,
Quando eu dava uma queda sem importância.
Depois,
De seguida dizias:
- Não te abandono.
O teu anjo da guarda está aqui à espreita.
Meu Querido Anjo da Guarda,
Não venho pedir um desejo,
Não venho apresentar uma queixa,
Não venho com qualquer argumento, falácia ou arremedo.
Meu Querido Anjo da Guarda,
Sou agora mulher madura,
Magoa-me esta lacuna que trago na alma,
Causada pela tua indiferença.
Vivo como se fosse um pássaro de asa partida,
Abandonado e perdido do bando com que outrora repartia
A busca pela sobrevivência.
Querido Anjo da Guarda,
Rói-me esta saudade.
A vida sem a tua presença,
Torna-me menos objectiva,
Dilui-se o significado da minha existência,
És, meu querido anjo,
o espelho da minha razão,
A parte metafísica,
que me falta à consciência.
Se me abandonas...
O que de mim me resta?
Beatriz Barroso
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