Tags:
1
é setembro e a minha casa continua a ser o quarto, o quarto dos fundos na casa dos meus pais, o quarto onde as paredes servem de pretexto a lágrimas, a sorrisos, a revoltas, a medos. o quarto é triste como as memórias que carrega e o jornal pendurado no quadro de cortiça tem nomes de empregos sublinhados a caneta vermelha, nomes de empregos que riem, o telemóvel está pousado a meu lado e fala-me menos que a chuva que cai lá fora. ninguém me responde. e releio o currículo já gasto. setembro é anunciação de um ano lectivo que não começa, de uma vida revirada do avesso. o porco está partido no meio do chão e do que dele resta contam-se uns cêntimos e muitos cacos. olho as coisas à minha volta e penso no que poderei vender, não tenho muito valor que não seja em mim mas vender-me nunca. vender-me nunca. fecho-me em copas enquanto o mundo me chama do outro lado. estou farta de ser daqui.
. façam de conta que eu não estive cá .