Para meu deleite, proporcionado
pela janela de meu quarto, vejo que
o sol se põe, para além do horizonte,
trazendo até mim a noite, ainda os
silêncios se recompõem, assumindo
cada um sua posição fixa.
Quando das sombras, já as silhuetas,
assumem papel preponderante, na
tibiez da noite escura, resolvo-me a
sair para a rua, confrontando-as,
alertas os sentidos, ao mais leve ruído,
que me leve a visualizar, o que
não vejo e apenas pressinto.
E assim vagueio, horas sem fim, não
deixando de tropeçar, aqui e ali, porque
minha visão cegou, momentaneamente,
enquanto resoluto caminhava,
direito às águas, sabendo-as ali, pelo
efeito contrastante, da luz de prata,
que a lua emana, por sobre o rio.
Alguns caniçais tentam impedir minha
progressão e há linhas de pássaros
dormitando, nas margens do rio,
aquecendo seus corpos, uns de encontro
aos outros: e por instantes detenho-me,
observando a mãe natureza.
Alcançadas as margens e as águas do rio,
dispo-me de toda a roupa
e nelas mergulho, com elevada satisfação e
libertação, que meus poros agradecem,
em uníssono, banhando-se nas águas frescas,
que todas as noites esperam, ansiosas
como eu, pela minha chegada.
Vai longa a noite e resolvo regressar
a casa. Mais uma vez, tropeçando, aqui e
ali, num movimento brusco nos caniçais,
pássaros assustados, afastam-se em revoada,
por cima de minha cabeça, e, vislumbro, ao
longe, os primeiros raios matinais.
E há um cheiro a terra, a que não resisto!
Jorge Humberto
03/09/08