A construção de uma moradia
é sempre razão de alegria.
Há os senhores engenheiros
administradores de dinheiros,
há os empreiteiros, os encarregados,
velhadas de suores trabalhados...
Tijolo a tijolo
o servente tolo
vai erguendo o que o pedreiro lhe diz,
desconhecendo a planta de raiz...
O estucador e o carpinteiro
embelezam a casa, dão-lhe outro cheiro.
Quando o engenheiro vai à obra
e um espaço do esboço sobra,
vai de culpar o encarregado
de suor ensopado.
Vinga-se com o martelo
(que o idoso chama maço)
e, como no talho cheio de sangue grasso
se usa do cutelo,
começa a endireitar o palmo de defeito...
Entre amadores de moradias
faz-se a empreitada todos os dias
e o edifício perfeito...
Toca a trabalhar...
(pensa um servente)
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.